Caro leitor, antes que você me mate ou me julgue incansavelmente pelo meu trocadilho infame no título desta Crítica, deixe-me contar-lhe uma história que servirá de explicação para minha reprovável façanha.
Esta breve história começa com o baby Igor nos seus anos dourados de ensino fundamental. Caso você tenha lido a primeira crítica do blog (Psychonauts 2), certamente percebeu que várias histórias começam com os meus momentos do ensino fundamental – acho que mencionarei este fato aos meus psicólogos.
Eu sempre assisti todo tipo de filmes quando criança, desde Terror até a mais maluca das ficções científicas – a prova disto é que um dos filmes que eu mais adorava ver com meu tio era Duna do David Lynch, e esta minha característica eclética me levou a assistir um certo filme desconhecido chamado It: uma obra prima do medo.
Vários dos leitores já podem saber aonde quero chegar com isto. Meu entusiasmo por cinemas me proporcionou um ótimo período de completo pavor de circos. Bom, naturalmente hoje não sofro mais deste trauma, entretanto, deixo claro que ainda não me sinto plenamente confortável.
Tudo isto nos traz ao momento em que vi que o novo filme do Guilhermo Del Toro seria inserido em um cenário de circos. Em resumo, me caguei. Eu tinha certeza de que não conseguiria assistir o filme direito e que naturalmente odiaria a experiência. Mas é com felicidade que eu consigo dizer: Guilhermo, deu boa – Entenderam o trocadilho do título agora?
O Beco do Pesadelo é um filme de suspense – Sim, suspense – no maior estilo noir, que estreou ao redor do mundo no final do ano de 2021, mas que chegou ao Brasil apenas no início do 2022. Diga-se de passagem, puta data merda pra estrear internacionalmente. Confrontar o novo Homem Aranha é um pedido de destruição para sua bilheteria – por ora o filme fez aproximadamente USD 15.000.000,00, tendo um orçamento de USD 60.000.000,00. Vish!

Para aqueles que ainda não são muito familiarizados com o estilo Noir. Trata-se de uma forma de filmagem – não necessariamente um gênero – que geralmente tem grande enfoque em protagonistas perturbados por fantasmas do passado e ambientações com grande relevância na construção da história.
A trama segue a jornada do protagonista vivido por Bradley Cooper (Stan Carlisle) no período pós-guerra, logo após sua chegada ao Circo de horrores orquestrado pelo personagem vivido pelo Duende Verde – vulgo, Willem Defoe. Prezando sempre pela surpresa do leitor no cinema, me limitarei a dizer que o filme se propõe a contar a história da desintegração da moral do protagonista, mostrando como o meio no qual este se insere vai, aos poucos, tornando-o um humano completamente diferente – Bom? Mau? Feio? Bonito? Vai ter que ver para descobrir.
Nos quesitos técnicos e de direção, gosto sempre de lembrar que no mundo existem dois “Guilhermos” Del Toro. Bom, pelo menos para mim. O primeiro deles é o porra louca, monstros gosmentos e putaria comendo solta – o cara do Hellboy. E o segundo é aquela coisa maravilhosa que foca na construção de uma atmosfera densa e personagens complexos – o cara do Labirinto do Fauno e A Forma Da água.
Este filme está muito mais para Labirinto do Fauno do que para Hellboy, certamente. Toda atmosfera criada ao redor dos personagens, somada com o fabuloso jogo de câmeras e a trilho sonora invejável, criam uma obra prima do suspense que te envolve neste mundo criado pelo Del Toro do início ao fim.
Quanto às atuações, não vou me alongar por motivos óbvios – só olhar o elenco né galera. Todos! Vou repetir! TODOS! Os atores fazem um trabalho perfeito nos maneirismos de seus personagens, criando a atmosfera perfeita para fazer com que o telespectador compre o que está sendo vendido e, ainda mais importante, se importe com o resultado final.
Devo ressaltar que O Beco do Pesadelo é um filme lento, o que pode incomodar alguns dos telespectadores, entretanto, a meu ver, esta condução lenta da história serve a um propósito. Os personagens principais passam por tantas influências do meio que, caso fosse feito de forma apressada, daria aquele típico sentimento de que as ações dos sujeitos não condizem com seu caráter.

Embora eu tenha adorado a história e sua forma de condução, admito que por vezes fiquei com medo do desfecho da obra não acompanhar a qualidade do resto, fato este que inevitavelmente condenaria o filme todo ao fracasso. Gosto de usar a analogia de que a construção de uma narrativa desta forma é tão perigosa como ir a um restaurante exclusivamente pela sobremesa: Se a sobremesa for ótima, o jantar foi maravilhoso. Caso a sobremesa esteja abaixo do esperado – não precisa nem ser ruim – tudo foi por água abaixo.
Em conclusão, o filme entra para o rol dos acertos da carreira do Guilhermo Del Toro e é uma obra “must” para todo o amante de cinema ou dos trabalhos do Diretor. Como únicos pontos negativos consigo apenas ressaltar que o atendente do cinema colocou muito mais pipoca doce quando eu pedi uma perfeita divisão meio a meio. Uma tragédia.
Para os que já me conhecem sabem que eu não gosto de trabalhar com notas, então, apenas para acalmar a angústia do Sr. Notinha dentro de cada um de vocês, digo que o filme é um sólido: 5 pipocas doces em meio a 5 pipocas salgadas, o equilíbrio perfeito.
Nota 10 ! Adorei!
CurtirCurtido por 2 pessoas
Valeu, meu caro!
CurtirCurtido por 1 pessoa