Inspira… 1… 2… 3… expira. Este foi meu ritual quase que constantemente durante toda reanalisada das minhas anotações para iniciar este texto. E por que eu devo respirar cautelosamente e de forma controlada? Bom, para me segurar e não passar as próximas 2 páginas acendendo a fogueira para produções de cinema/televisão a respeito de obras de videogame. Eu juro que estou cansado dos mesmos problemas. Mas, vamos por partes.
Como, eu imagino, não é surpresa para nenhum leitor deste blog – salve se este é seu primeiro texto, neste caso bem-vindo, mal te conheço e já te amo – que eu sou um gamer de carteirinha e tenho sido pelas últimas duas décadas. Então, sempre que estamos tratando de jogos ou adaptações destes, é naturalmente um ponto sensível em meu lindo coração gelado.
Com esta introdução você já pode estar pensando: ‘’vish, se começou assim é porque vem bomba’’. E olha, você não estaria em todo errado, entretanto, já deixo claro que Halo NÃO É UMA SÉRIE RUIM, mas, a meu ver, comete quase TODOS OS ERROS em uma adaptação de jogos para as telonas – ou nesse caso telinhas.
‘’Meu deus, o Igor acabou de dizer que Halo é pior do que a adaptação de Super Mario…’’ Obviamente não, e eu prometo explicar em breve, mas por ora temos que fazer o ritual de sempre.

Halo é uma serie do Paramount + que adapta a tão amada saga de jogos de mesmo nome. A história, pelo menos da série, uma vez que ela tomou algumas liberdades, segue nosso protagonista, o quase mitológico Master Chief – que na série acaba sendo muito mais o John do que qualquer outra coisa. Chief (nesse caso John) é parte do programa Spartan, que consiste na utilização de crianças para passar por um processo rigoroso de treinamento e engenharia genética para, no final de tudo, você ter um soldado perfeito.
E por que isto? Calma, eu te respondo, mas sem entrar em muitos detalhes ou possíveis spoilers. No universo de Halo, os humanos estão em constante guerra contra uma raça denominada de Covenants, aliens de extrema violência com aquela vontade maluca de dominação galáctica. E para proporcionar uma resposta à altura, os espartanos foram criados.

Olha, existe muito mais detalhe, lore e informações de backstory de tudo isto, mas a série ainda não disse, então não serei eu a dizer.
Enfim, a história segue nosso protagonista principal em meio a uma missão para prestar assistência ao planeta Madrigal. Chief, após a luta, descobre um artefato misterioso que estranhamente apenas responde ao seu toque. Quando ele o toca, é inundado por diversas imagens e cenas completamente aleatória e desconhecidas. O que naturalmente chama a sua atenção ao mesmo tempo que preocupa e intriga seus superiores. E assim temos uma história cheia de drama – mais do que todo mundo queria – e um pouco de ação – sacrificada em troca do drama que pouca gente queria.
E esse é o resumo do resumo feito em um post it do tamanho adequado para uma formiga. Isso porque o lore de Halo é tão rico, mas tão rico, que poderia encher facilmente um livro apenas de explicações – obs.: lembrei de mencionar aqui que não só poderia encher um livro, como a saga Halo tem hoje, além de todos os jogos, aproximadamente 30 livros hahaha então acho que meu ponto foi provado.
Agora meus queridos espartanos, vamos a nossa rotina de sempre e dividir entre os pontos positivos e negativos. E o rancor e a amargura do meu coração me disseram para começar pelos pontos baixos.
E de pontos negativos eu consigo pensar em três logo de cara. Dois mais brandos e um bem mais grave. Os dois brandos irão residir na figura da computação cráfica e no ‘’pacing’’ e o mais grave eu farei um suspense.
Quanto à computação gráfica, não tenho muito o que dizer, parece que estouraram o orçamento na construção do mundo como um todo e nos primeiros episódios. Os Covenants até que são bem-feitos – embora eu não nunca tenha achado que o design deles traduz bem para o live action, mas isto é picuinha minha – mas a batalha final do último episódio da temporada é bizarramente mal feita e mal renderizada. Ficou incrivelmente claro que eles encheram um estúdio de areia e cercaram tudo com tela verde. Horroroso mesmo.

Já o quesito pacing, eu não posso deixar de mencionar a experiência que minha namorada teve com a série ao tentar assistir comigo – spoilers, não foi boa. Lá estávamos nós, tentando ver os primeiros episódios e ela simplesmente pegou no sono e não acordou mais. Você pode estar pensando: ‘’nossa como ela é folgada’’ mas eu juro por tudo que geralmente sou eu o personagem da casa a pegar no sono, mas aqui foi diferente.
E a grande fadiga dela se deve a um fato muito flagrante: os primeiros 3 episódios são uma grande exposição do universo. É uma vomitada de informações ao telespectador que, se você não estiver preparado, é fácil se pegar mexendo no celular por conta do tédio. Somado isto a existência de alguns personagens incrivelmente desinteressantes, você tem a fórmula perfeita para a soneca delícia no sofá.
Mas os probleminhas de roteiro, de computação gráfica e a existência de alguns personagens meio inúteis – que sequer merecem menção aqui pois servem apenas para queimar tempo de tela – comparados com o que está por vir, são incrivelmente toleráveis para um fã da saga.
Aqui eu preciso abrir um parêntese para fazer uma ressalva. Eu nunca fui o MAIOR fã de Halo! Daquele tipo que usa camiseta, compra boné, chora a cada anúncio envolvendo a saga. Sabe? Mas, eu sempre admirei o universo e me interessei pela história, então sempre me peguei pesquisando os acontecimentos para saber um pouco mais. Parênteses feito, vamos voltar ao grande problema.
O monumental problema desta saga é a completa falta de noção – ou excesso de coragem, já nem sei mais – ao adaptar os acontecimentos dos jogos para a telinha. Não é de hoje que adaptações de jogos sofrem grandes problemas, seja para o cinema, seja para os livros, seja para as séries. Parece que os produtores ainda não sacaram qual é a melhor forma de fazê-lo e acabam cometendo o crime – ISSO MESMO, CRIME – de tratar toda adaptação da mesma forma.
Ora, pode parecer meio óbvio para os mais bem entendidos e intencionados, mas cada jogo tem um ponto chave que conecta o jogador com a obra. Alguns é pelo gameplay, outros é pela história, outros te cativam pelos personagens e outros ainda conseguem te prender exclusivamente com o lore e backstory da saga.

Dito isto, é natural que uma adaptação que pretenda ser bem-sucedida não siga o caminho de outras que vieram antes, devendo focar exclusivamente em seu público. Para deixar um pouco mais claro, vamos usar o didatismo dos exemplos:
Se eu for planejar uma adaptação do jogo Super Mario Bros – obra focada quase que integralmente em gameplay e diversão casual – eu precisarei focar em determinados pontos que eu naturalmente poderei esquecer, caso pretenda adaptar uma saga como The Last of Us por exemplo, que se sustenta fortemente na sua história e construção dos personagens. E assim por diante.
E mesmo assim, mesmo descobrindo tudo que o jogador mais ama em uma saga, ainda não tenho a fórmula para o sucesso, pois preciso traduzir este sentimento para uma mídia passiva – tendo em mente que um jogo é uma mídia ativa, uma vez que a pessoa interage com os personagens e etc. Enfim, com estas pequenas ponderações, já deu para ver que não é uma tarefa fácil, mas quem pretende velejar nestas águas, necessariamente precisará compreender.
E isto nos traz à adaptação feita pela série de Halo… ai ai ai. Pelo menos para mim, após minhas vastas pesquisas, me parece que existem algumas constantes no amor dos fãs pelos games: o Master Chief, a relação de Chief com a Cortana e todo o backstory e construção narrativa.
Bom, com a primeira temporada já consigo cravar que eles dizimaram duas das três, podendo fazer um strike – dizimando tudo – caso não corrijam algumas coisas nas temporadas seguintes. Dito isto, mais uma ressalva deve ser feita: AI DE QUEM DISSER QUE EU ESTOU PUTO APENAS PELO FATO DO CHIEF TER TIRADO O CAPACETE NA SÉRIE. Esse é o menor dos problemas, eu juro.

Mas tomando isto como ponto de partida, temos um belo exemplo do que não fazer em uma adaptação: Pegar o material base, mudar e descaracterizar completamente um dos pontos mais amados pelos fãs.
Eu entendo a incrível dificuldade de você pegar um personagem que pouco fala, que não tem rosto e que é visto quase como um mito e fazer com que o expectador se conecte com ele, mas existem outras formas além de apenas mudar completamente sua essência.
Na adaptação – como se tirar o capacete não bastasse – Chief é retratado muito mais como um soldado – um bom soldado, mas apenas isso – que passa por uma incrível crise de identidade devido ao seu contato com o artefato que eu mencionei antes. E isto é reduzir Chief a uma fração mínima do personagem que ele é nos jogos.
Aqui eu proponho um exercício ao leitor: na saga de jogos Master Chief é tratado quase que como uma condição imprescindível para a vitória humana na guerra. Isto faz com que se crie quase que uma mitologia que permeia o personagem que é visto por muitos como a última esperança dos homens devido à sua resiliência e seriedade. E sim, por vezes isto significa sacrificar seu lado humano.

Mas toda esta construção narrativa traz um teor tão maior de emoção, tristeza e superação quando em diversos momentos da série Chief precisa ser o homem e não o soldado. E este sentimento está quase que enterrado para sempre na série, porque agora já vimos os Espartanos com crise de ansiedade e vontade de pintar o cabelo – sim, difícil de acreditar.
Olha, eu não quero mais me estender neste texto porque sinto que estou ficando com rugas na testa de tanto estresse, então irei tentar resumir minha conclusão em uma separação de sujeitos:
Sujeito nº 1: fã de ficção cientifica, adora Star Wars, Star Trek e mal pode esperar para ver a próxima ópera espacial que o entretenimento trouxer para ele. Este cara certamente encontrará grande divertimento na série, uma vez que ela conta com uma história interessante e personagens que conduzem bem a narrativa – alguns, pelo menos;
Sujeito nº 2: é fã de carteirinha da saga Halo, já leu todos os livros, jogou todos os jogos e não vive sem seu poster da Cortana em seu quarto. Este, embora eu sinta que ele deva ver a série apenas para ver qual é, certamente encontrará grande decepção e seu divertimento estará diretamente ligado à sua capacidade de se desapegar da sua saga amada.
Enfim pessoal, por hoje é isso, me desculpem o texto gigante, mas eu tive que tirar algumas coisas do peito e dar aquela lavada na roupa suja. Espero de coração que a experiência de vocês com a série seja bem melhor que a minha! Obrigado pela leitura! Grande abraço!!
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