O Homem do Norte: a ”pipocatização” de Eggers

Olá pessoal, Igor aqui! Eu me lembro como se fosse ontem. Cá eu estava sentado em minha casa, em meados de 2015, quando olhei algumas notícias e críticas que diziam algo próximo a: ‘’acabou de lançar o filme de terror mais assustador de todos os tempos’’; ‘’A Bruxa faz as pessoas saírem da sessão de tão assustador’’ e etc.

Bom, vocês já devem ter imaginado o que eu fiz ao ler isso. Obviamente me peidei e tive certeza que não assistiria – eu ODEIO filmes de terror – m as, com o tempo, fui sentido a pressão social e resolvi dar uma chance.  E, por incrível que pareça, não gostei.

[SPOILERS PARA A BRUXA] Lembro de ter pensado enquanto assistia ao filme ‘’se o bode falar eu juro que saio da sala’’ e não deu outra… 3 minutos depois o desgraçado foi lá e falou. Foi fo**

Robert Eggers (Foto: Alberto E. Rodriguez/GettyImages)

Mas mesmo com todos os meus problemas com o filme, eu sabia que existia uma joia meio bruta ali, porque a direção era simplesmente impecável. Robert Eggers sempre, mesmo na sua pior obra (A Bruxa), entregou um trabalho maestral na criação de atmosfera e construção de um universo que se sustenta nele mesmo.

Fast forward, em 2019 eu assisti O Farol, e como esperado, se tornou um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. Como fã da escrita do H.P. Lovecraft, e todo o mistério em torno do desconhecido, o filme me fascinou de uma forma que poucos conseguiram até hoje. Então, a partir daquele ponto, Robert tinha conseguido um fã de carteirinha que assistiria tudo que ele resolvesse lançar.

E isto nos traz a 2022, com o lançamento de O Homem do Norte, o novo filme de Robert Eggers que agora assumiu o grande desafio de trazer a mitologia nórdica para a telona. A história segue o nosso protagonista, Principe Amleth, interpretado pelo talentosíssimo Alexander Skarsgård, em uma grande jornada de vingança contra o assassino de seu pai e o ‘’escravizador’’ de sua mãe.

Universal Pictures

Bom, imagino que você possa estar se perguntando: ‘’Igor, esta história de vingança já é mais batida do que o leite antes de virar manteiga’’. E caro leitor, contra fatos não há argumentos. Realmente, estamos diante de uma história de vingança tão natural como a luz do dia – há, gostaram desta referência anos 2000 – mas este filme traz um elemento que os outros não trouxeram até então. A direção de Eggers.

Como eu disse anteriormente, Eggers tem aos poucos se tornado um dos mais aclamados diretores do nosso tempo, pois tem um desgraçado de um talento e uma ainda mais desgraçada inteligência, portanto, ao produzir seus filmes, gosta de focar naquilo que sabe. Manja aquele típico feijão com arroz que não tem erro?

O diretor sabe conduzir a história como poucos na indústria hoje em dia, mas, por bem ou por mal, este ainda é um filme com aquela típica assinatura forte que pode ser vista nos seus títulos anteriores. Dito isto, farei um bate bola rápido de coisas que sempre podemos esperar em filmes do cineasta para pessoas que não são tão familiarizadas com o trabalho dele.

Em primeiro lugar, você sempre, e quando digo sempre, é sempre mesmo, vai ter uma obra REPLETA de simbolismos. O diretor gosta de pesar a mão nas imagens e referências religiosas, bíblicas e artísticas sem medo de ser feliz. Então, por vezes, o telespectador menos dotado de inteligência cultural – leia-se, eu mesmo – pode ficar meio perdidão e tendo a certeza de que está completamente maluco.

Universal Pictures

Já o segundo ponto relevante que sempre temos que ter em mente é o belíssimo trabalho do elenco. Desde lá de trás, com o filme A Bruxa, já era possível ver que cada ator em tela, estava ali dedicado de corpo e alma pelo projeto.

Por alguns momentos dá até a impressão de que Robert, caso desejasse, poderia ser o charlatão mais bem sucedido do Universo, uma vez que convence todos os seus contratados de basicamente todos os andamentos de suas tão malucas histórias.

Por fim, mas não menos importante, TODOS os filmes do diretor, até hoje, podem ser chamados de slowburn. ‘’Mas Igor, o que é slowburn?’’ São aqueles filmes que não tem a menor pressa no desenvolvimento de sua história e se sentem plenamente confortáveis e dar um passo de cada vez. E em O Homem do Norte não é diferente.

Embora seja categoricamente o filme mais agitado e eletrizante de toda a carreira do cineasta, é indiscutível o fato de que a primeira hora de filme é facilmente um grande prólogo que está ali apenas para apresentar ao telespectador a tonalidade da obra que está por vir. E obviamente, dar aquela construída na atmosfera de tensão.

Mas, até então, eu devo parecer o cara mais presunçoso do mundo, tratando como se eu soubesse tudo que ia acontecer no filme e como tudo seria. Mas é com certa felicidade – não pelo fato de você ter me achado presunçoso, diga-se de passagem – que eu digo que fui pego por várias bolas curvas no decorrer do filme.

Universal Pictures

E, talvez, a mais inesperada destas, tenha sido o fato de que o filme é IMENSAMENTE mais acessível que seus antecessores espirituais. Não sei se foi por pressão do estúdio, se foi por ter um orçamento maior ou até pelo próprio material base, mas a obra, a meu ver, pelo menos, pode ser assistida por qualquer fã de filmes de época que poderá ser bem aproveitada. O que já não é verdade para os dois primeiros filmes do diretor.

E por fim, como uma menção honrosa, embora eu sinta que o elenco de peso acabe ficando um pouco em segundo plano devido à forma de construção do filme – não me entendam errado, os atores em todos os filmes do diretor fizeram trabalhos brilhantes. O Homem do Norte tem um elenco recheadíssimo de talentos que se mistura com todos os elementos trazidos pela obra para formar combo de extrema qualidade.

Em conclusão, me parece que estamos diante da ‘’pipocatização’’ do Eggers, ao sermos apresentados a um filme complexo, mas ao mesmo tempo acessível. Mas me sinto na obrigação de ressaltar novamente a assinatura forte presente na direção do filme, o que pode acabar afastando os telespectadores um pouco mais convencionais. Isto porque, embora o filme seja indiscutivelmente mais acessível, não estamos diante de um filme pipoca para o final de domingo.

Deixe um comentário

Blog no WordPress.com.

Acima ↑