
Já vou mencionar o elefante na sala. Eu sei que a saga de livros Duna não é nova, sei que possivelmente muitos já leram, MAS eu sinto que com o sucesso (ou quase isso) da nova adaptação para as telonas, com o sr. Faz Tudo (Timotheé Chalamet), mais pessoas vão iniciar suas jornadas cheias de spice melange.
Minha história com a saga iniciou-se há anos – sim, você acertou, na minha infância – no período em que, nos finais de semana, meu tio me levava ao apartamento dele, pedíamos pizza e assistíamos longas horas de filmes, séries e afins.

Nesta época, um dos filmes preferidos dele era Duna do David Lynch. “Ah, pela incrível história?” Não. “Então pela boa atuação e efeitos visuais?” Também não. Bom, chega de suspense. Meu tio é arquiteto e ele adorava, repito, A-D-O-R-A-V-A a ambientação do filme e as vestimentas dos personagens. Sim, um pouco peculiar.
Ainda jovem eu me dei ao trabalho de tentar ler ao primeiro livro, já que gostava tanto do filme. Um desastre. Por quê? Você pergunta. Eu não gostava de ler quando criança e fui lá tentar ler um livro que, embora bom, pode ser consideravelmente maçante em alguns momentos, exclusivamente pois eu achava as minhoconas – eu sei que não são minhocas, mas na época não sabia – maneiras.
Mas, sem mais delongas, vamos falar sobre a tal história das minhoconas. Duna uma saga de livros composta por seis edições – fora os 4500 livros que o filho do autor escreveu e chamou de universo expandido. Me poupe! – idealizada e escrita pelo eterno Frank Herbert.

Eu me comprometi a não dar quaisquer spoilers neste blog, e pretendo manter esta promessa, MAS, como tem um filme mega recente sobre o início do primeiro livro, vou flexibilizar minha própria regra, me permitindo falar sobre o que já foi mostrado até então.
“Ah, mas tem o filme antigo que já conta a história.” Meu querido, aquele filme é tão fiel ao livre quanto eu sou fiel à minha dieta se você aparecer com uma pizza vegana grátis na minha frente. Enfim, com spoilers mínimos it is.
A saga se insere em um império galáctico em um futuro muito distante, no qual toda a galáxia é governada por um imperador (Imperador Padicha) e logo abaixo dele estão as grandes casas, sendo as duas mais importantes para a trama a casa Atreides e a linda e fofíssima casa Harkonnen – contém ironia.
O nosso protagonista do primeiro livro, Paul Atraides, e sua família, são enviados ao planeta Duna – é coberto de areia, caso alguém não tenha entendido – a mando da casa imperial em uma tentativa de reestabelecer a ordem e agregar na extração da tão desejada Spice Melange – a especiaria.
No universo de Duna, a especiaria significa poder. É a substância mais valiosa do universo, sendo a responsável por toda viagem espacial realizada pelo império, funcionando também como moeda de troca. Enfim, é o bitcoint de Duna.
Mas, como “desgraça pouca” é bobagem e raramente se escreve uma história emocionante sem reviravoltas, logo após a chegada da família Atraides em Arrakis (real nome do planeta Duna), logo se deparam com planos para a destruição integral de sua linhagem. Assim, nosso protagonista se depara com a necessidade de enfrentar seus maiores medos, ao mesmo tempo que enfrenta seus maiores inimigos.
Pessoal, esse foi o resumo, do resumo, do resumo da ponta do iceberg da história e mitologia de Duna. Obviamente uma explicação completa e detalhada não caberia em um simples texto neste obscuro blog perdido na internet, mas penso que já deu para ter uma ideia, especialmente para aqueles que não assistiram às adaptações realizada.

Como também não caberia em um texto mais leve e informal a crítica de todos os livros da saga, eu vou me propor a analisar a saga como um todo – pelo menos os 6 primeiros livros – no intuito de tentar motivar, ou desencorajar, você leitor a dar uma chance.
Vamos seguir os padrões normais deste blog e dividir esta análise em pontos positivos e pontos negativos, nesta ordem.
Como o maior ponto positivo, penso que inclusive seja quase prescindível dizer, devo colocar a qualidade do mundo criado por Frank Herbert em sua obra. Olha, eu estou falando de uma qualidade equiparável ao que fez J.R.R. Tokien. Não sabe quem é? Meu deus! Bom, para os menos afortunados, explico que Tokien é, ninguém mais, ninguém menos do que o escritor da pouco aclamada saga Senhor dos Anéis.
“Ah Igor, que ultraje, Senhor dos Anéis é a obra prima da fantasia, como você ousa compará-la com qualquer outra saga?” Confiem em mim nesta hora, a qualidade da mitologia de Frank Herbert é, em todos os aspectos, comparável à saga da Terra Média.
Herbert cria um mundo tão rico que você – figurativamente falando – consegue se imaginar vivendo nele, respirando-o, sentindo suas dores e dificuldades. Enfim, o mundo faz sentido. Não é para menos que vários elementos por ele colocados serviram de inspiração para diversas histórias posteriores, em especial a tão amada saga Star Wars.
Mas como não é só de ambientação que se faz uma história, ressalto que o segundo ponto altíssimo da saga são os personagens inseridos em toda esta bagunça. Obviamente não são todos os personagens presentes que têm uma qualidade ímpar, mas aqueles pontos focais da saga, aqueles personagens utilizados pelo autor como condutores da trama, tem o chamado por mim como “cebolismo”. “Ah Igor, você quis dizer ‘simbolismo’ …” Não meu caro leitor, é “cebolismo” mesmo.
Os personagens chave são exatamente iguais a uma maravilhosa cebola – tem camadas, dã – e vão sendo descascados aos poucos, de forma cirúrgica e minuciosa pelo autor, fazendo com que o leitor, a cada página lida, compreenda cada vez mais suas motivações, medos, angústias e frustrações. Coisa de outro mundo mesmo.
E agora chegamos ao último ponto de destaque positivo que eu gostaria de ressaltar. obviamente existem muitos outros, mas é preciso colocar um limite, se não ficaremos aqui escrevendo um texto de infinitas páginas.
Meu derradeiro ponto positivo consiste no tema central, na mensagem pretendida pelo autor em sua obra.

“Mas Igor, não é sobre minhoconas e guerra espacial?” Cebolas, meu caro leitor. Lembre-se das cebolas, elas têm camadas. Embora em uma superfície a saga trate de uma história de batalha simples entre duas famílias, quando olhamos mais a fundo percebemos a real intenção do autor – ou pelo menos alguns de nós percebem, porque já vi cada coisa escrita na internet que pelo amor de Deus. Até meus olhos sangraram.
A real intenção – o que parece ser um consenso entre os fãs – consiste em passar a grande mensagem: sempre duvide, tema e fiscalize líderes carismáticos. Para melhor explanar isto, deixarei uma breve passagem de uma das obras:
“Quando religião e política viajam no mesmo carro, os condutores acreditam que nada é capaz de ficar em seu caminho. Seu movimento torna-se impetuoso, cada vez mais rápido. Deixam de pensar nos obstáculos e esquecem que o precipício só se mostra ao homem em desabalada carreira quando já é tarde demais.” – HERBERT, Frank. Dune.

Agora, todos vão compreender este tema? Tendo a dizer que não, especialmente aqueles que se limitarem a ler apenas o primeiro livro. Por bem ou por mal, a saga Duna é efetivamente uma saga, e mostra-se imprescindível que o leitor se proponha a ler, PELO MENOS, os dois primeiros livros para compreender o que está sendo exposto. Do contrário, contemplará apenas uma história de luta entre famílias.
Dito isto, trarei o ponto negativo e minha única crítica à saga. Para contar sua história, Frank Herbert opta por trabalhar com um gigantesco lapso temporal – e quando digo gigantesco, quero dizer gigantesco mesmo. Coisa de milênios -, o que naturalmente traz pontos positivos e negativos.
O positivo é que fica mais real, uma vez que movimentos e alterações significativas na sociedade demoram de fato anos, mas em uma história de ficção, isto naturalmente nos traz um grande problema: VOCÊ PRECISA RENOVAR A GAMA DE PERSONAGENS CONSTANTEMENTE.
Ora, fora alguns personagens pontuais que se fazem presentes durante todos os milênios da saga – não direi nem quais e nem como, sob pena de soltar spoiler pra caramba – todos os livros da saga carregam uma renovação gigantesca do leque de personagens, tornando constante o sentimento de livro introdutório.
Novamente, por bem ou por mal, Duna é uma saga e foi compreendida como tal, entretanto, após a leitura dos seis livros principais, eu consigo dizer com tranquilidade que você, leitor, estará super bem amparado e bem inserido no universo lendo os primeiros quatro.
Esta leve “brecha” é, também, consequência destes longos lapsos temporais entre uma obra e outra, fazendo com que, mesmo que de forma indireta, os livros tenham histórias fechadas em si.
E por que eu digo que apenas os quatro livros iniciais são necessários? Bom, porque, pelo menos para mim, ali o ciclo se encerra de forma satisfatória, concluindo a mensagem pretendida pelo autor e apresentando um futuro incerto, mas que funciona como um desfecho para a saga, uma vez que é a culminação de todas as dores e sacríficos dos personagens principais.

E isto nos traz aos dois últimos livros. Eles têm uma razão de existir? Sim. Ela é satisfatória o suficiente e entrega o que se propõe? Não. Durante AMBOS os livros, eu não conseguia tirar o gosto de que aquilo era apenas um longo e cansativo epílogo, que tenta nos apresentar novos temas, novos personagens e novas tramas que não acrescentam quase em nada a mensagem trazida pelos seus antecessores.
Bom, mas não adianta chorar sobre leite derramado. Os livros existem e são parte da saga principal e assim devem ser julgados. Então, em conclusão, eles estão vários níveis abaixo dos quatro primeiros livros da saga, em todos os quesitos: história, personagens, trama e condução.
Penso que, por fim, falte apenas analisar minha opção de título. Acredito que o trecho do bolo de chocolate seja autoexplicativo, mas para os mais perdidos, significa que todo mundo gosta. “Ah Igor, eu não gosto de bolo de chocolate” Bom, tem louco para tudo.
Já o chuchu, precisa de um pouco mais de ponderação. Veja caro leitor, eu gosto de chuchu? Não! Acho emocionante? Não! Acho que alguém em sã consciência considera melhor que bolo de chocolate? Definitivamente não, só o maluco que respondeu que não gosta de bolo de chocolate lá em cima. Mas, contudo, no entanto e todavia, eu compreendo que algumas pessoas irão, SIM, gostar deste chuchu, assim como ocorre no mundo real, por incrível que pareça.
Em conclusão, o projeto começa como algo lindo e revolucionário e termina como algo genérico e sem sentido. MAS, como eu disse, até o livro quatro (2/3 da saga), temos uma história que pode ser descrita apenas em uma palavra: genial. E devem ser lidos por TODOS os fãs de ficção e fantasia.
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