Bom, vou começar esta crítica com uma informação relevante para o contexto completo em que minha experiência se insere. Eu não sou um fã de carteirinha da realeza inglesa. Isto de forma alguma quer dizer que eu não tenha consumido materiais – especialmente cinematográficos – sobre o tema, mas simplesmente nos traz à realidade de que eu não sei cada babado e novidade que se passa por ali.
O meu tio, por outro lado, é fã da, denominada carinhosamente por ele, Rainha Betinha. Assim, logo que saí do cinema busquei conversar com ele para entender melhor o contexto no qual a obra que eu acabara de consumir se inseria. E a resposta, para a surpresa de alguns e a raiva de outros é: “Sabe Deus”. Mas não coloquemos a carroça na frente dos bois – ou neste caso o dog walker na frente dos corgis reais.
Spencer é um filme dirigido por Pablo Larrain e roteirizado por Steven Knight – ele também roteirizou uma série pouco famosa chamada Peaky Blinders – estrelado pela nossa amante de vampiros preferida, Kristen Stewart.
No quesito enredo, o longa conta a história da Princesa Diana, inserindo-a em um recorte temporal específico compreendido pelos três dias de festividades natalinas do ano de 1991. A trama narra de forma minuciosa toda a conturbada relação da Lady Di com a família real, culminando no completo desespero da personagem em meio a uma família da qual não se sentia parte.
Neste pequeno resumo consigo compreender quão empolgante o filme parece ser quando se propõe a apresentar uma viagem inesquecível às minúcias do subconsciente da Princesa de Gales. E admito que ele entrega isto, mas com várias ressalvas.
Antes de começar a minha reclamação, gostaria de apontar os acertos do filme, e pretendo deixar claro que quando a obra acerta, ela acerta pra caramba – mas quando falha é um Deus nos acuda, diga-se de passagem!!

Film, Nation Entertainment
O primeiro grande acerto do filme tem nome, altura e aparência: Kristen Stewart. Aqui vou abrir um parênteses bem necessário: a meu ver Kristen já tinha tido a sua redenção enquanto atriz e eu particularmente já tinha perdoado ela por Crepúsculo, mas, para aqueles seres humanos de coração mais peludo do que o meu, eu afirmo que deste filme o seu ódio não passa.
Ela simplesmente personifica a Princesa Diana, desde os maneirismos, até a cadência de sua fala. Não há o que reclamar. Tá, neste último ponto exagerei. Em breves momentos conseguimos ver algumas tendências da atriz que a acompanham desde o início da sua jornada, mas nenhum deles protagoniza os memes criados pela eterna Bella Swan, não se preocupem.
Mas como nenhum filme se sustenta com apenas um ator – bom, quase nenhum – fico contente em ressaltar que todo o elenco coadjuvante faz um trabalho impecável de auxiliar a criação de toda a atmosfera da história. Mas sejamos sinceros, o filme foi feito e dirigido no intuito de enaltecer o trabalho da protagonista, logo, embora os demais atores consigam segurar a bronca, Kristen rouba a cena.

Film, Nation Entertainment
Outro ponto ALTÍSSIMO fica por conta dos quesitos técnicos do filme. Toda a fotografia, o enquadramento de câmera, as entradas da trilha sonora são feitas de forma proposital e orquestrada pela invejável equipe técnica do filme. Mas deixo avisado, o filme por vezes parece tentar emular uma época antiga dos cinemas, o que pode deixar os telespectadores mais rigorosos meio incomodados!
Ainda na parte técnica, me sinto na obrigação de enaltecer a trilha sonora trazida por Jonny Greenwood. “Mas Igor, este nome não me é estranho…” Perspicaz meu caro leitor, muito perspicaz. Jonny é o guitarrista da banda Radiohead – adendo, fiz este corte no texto na expectativa de haver algum fã da banda aqui. Caso contrário esta parte vai parecer bem boba. Orem por mim.
Como eu estava dizendo, a trilha sonora é perfeitamente encaixada em momento chave da trama, trazendo um impacto extra sempre que se faz presente. Isto é elevado à décima potência pelo fato de que, no geral, Spencer é um filme realmente silencioso, com poucas introduções musicais no decorrer de sua narrativa. Assim, fica claro que quando a música vem, ela vem com tudo mesmo!
Aqui fica um questionamento meu: uma boa trilha sonora é aquela que se mescla perfeitamente com o filme e cria uma arte só ou é aquela tão impactante que chama imediatamente a atenção do telespectador? Fica a dúvida aí. Sintam-se à vontade para responder nos comentários.
Neste momento acredito que os mais animados dos leitores já estão com a mão tremendo, prontos para entrarem no aplicativo do Ingressos.com para garantir o seu lugar na próxima sessão do filme. CALMA!!! Segura a ansiedade porque aqui começa a desgraça.
Acendam as fogueiras, peguem os tridentes, tirem as crianças da sala e se preparem porque agora eu vou reclamar. Depois de todos os meus elogios, depois de perceber quão bem trabalhada é a obra, sou bofeteado com uma história sem sal, um recorte de tempo que, a meu ver, não fez muito sentido e com um final que para ser anticlimático precisaria melhorar muito.
Primeiramente eu preciso relembrar vocês de que eu não sou perito na história inglesa, então não quero ver ninguém me chamando de burro nos comentários. Como eu disse anteriormente, o recorte temporal é feito na ideia de representar três longos dias na vida da princesa Diana, na perspectiva de mostrar claramente a queda da sua força emocional e a ruptura definitiva dela em relação à coroa inglesa.
Meu primeiro problema com a história reside no fato de que este corte temporal faz pouco sentido para o espectador médio – leia-se, eu. Lady Di chega odiando todo mundo, não querendo seguir as tradições, usar as roupas, receber ordens ou auxílios e tudo isto é justificado com algumas linhas de diálogo entre ela e sua ajudante e fiel escudeira na história.
Ora, a justificativa parece ser plausível? Sim! Mas seria infinitamente melhor para o exercício de empatia, se o filme optasse por nos mostrar todos os acontecimentos que antecederam os dissabores de Diana naquele momento. Da forma que foi apresentado, por vezes a personagem principal parece mimada, mesmo esta não sendo a intenção da obra.
Meu segundo e maior problema com toda a trama consiste na premissa de que o filme não é nem historicamente correto – isto não parte do meu leigo conhecimento, mas sim da primeira frase do filme que deixa claro que se está diante de uma fábula – a ponto de agradar os entusiastas da história inglesa e nem porra louca o suficiente para tornar a experiência mais prazerosa para o público médio. Infelizmente isto cria uma sensação de que o filme mira tanto para acertar o alvo que acaba esquecendo de atirar.
Eu fico realmente triste em dizer que embora a obra tenha, aparentemente, apimentado alguns acontecimentos, tornando a figura da Princesa de Gales uma personagem complexa e cheia de camadas – e por vezes com um preocupante grau de esquizofrenia – a obra falha ao cadenciar estes acontecimentos no decorrer do filme, culminando em longos trechos de pura monotonia.

Fabula Film, Nation Entertainment
Em conclusão. Eu sei que pareço estar sendo demasiadamente duro com o filme, mas acreditem quando eu digo que eu queria que este filme fosse espetacular, mas ele peca tanto na condução de sua história que se torna uma obra linda, entretanto tediosa.
Como eu estou triste com este filme, eu nem queria dar uma nota, mas o Sr. Notinha me obrigou. Então, sem mais delongas, dou cinco corgis dorminhocos ao filme. Tão lindos e fofos que da vontade de dormir junto, literalmente.
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